Monday 21 November 2011

518. A pele que há em mim - Márcia



Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu

E a calma a aguardar lugar em mim
O desejo a contar segundo o fim.
Foi num ar que te deu
E o teu canto mudou
E o teu corpo do meu
Uma trança arrancou
O sangue arrefeceu
E o meu pé aterrou
Minha voz sussurrou
O meu sonho morreu

Dá-me o mar, o meu rio, minha calçada.
Dá-me o quarto vazio da minha casa
Vou deixar-te no fio da tua fala.
Sobre a pele que há em mim
Tu não sabes nada.

Quando o amor se acabou
e o meu corpo esqueceu
o caminho onde andou
nos recantos do teu
e o luar se apagou
e a noite emudeceu
o frio fundo do céu
foi descendo e ficou

Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei, para lá do fim
É preciso partir,
É o preço do amor
Para voltar a viver
Já nem sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber

Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada
O meu barco vazio na madrugada
Vou deixar-te no frio da tua fala.
Na vertigem da voz quando enfim se cala.