Thursday 30 June 2016

1053. Pica do 7 - António Zambujo



De manhã cedinho
Eu salto do ninho e vou pra paragem
De bandolete à espera do sete
mas não pela viagem

Eu bem que não queria
mas um certo dia vi-o passar
E o meu peito céptico
por um pica de eléctrico voltou a sonhar

A cada repique
que soa do clique daquele alicate
Num modo frenético
o peito céptico toca a rebate

Se o trem descarrila o povo refila e eu fico num sino
pois um mero trajecto no meu caso concreto é já o destino

Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração
Quando o sete me apanha
Até acho que a senha me salta da mão
Pois na carreira
desta vida vão
Mais nada me dá a pica que o pica do sete me dá

Que triste fadário e que itinerário tão infeliz
Cruzar meu horário com o de um funcionário de um trem da carris

Se eu lhe perguntasse
se tem livre passe pró peito de alguém
Vá-se lá saber talvez eu lhe oblitere o peito também

Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração
Quando o sete me apanha
Até acho que a senha me salta da mão
Pois na carreira desta vida vão
Mais nada me dá a pica que o pica do sete me dá

Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração
Quando o sete me apanha
Até acho que a senha me salta da mão
Pois na carreira desta vida vão
Mas nada me dá a pica que o pica do sete me dá